Começou pela capa a empatia pelo Volume 7 da coleção “Para gostar de
ler”, da Ática. Nela, um cara de bigode e uniforme colegial puxava uma cadeira para se juntar a três crianças
numa mesinha escolar. No canto, uma professora, atônita, assitia a cena. Naquele tempo, por conta de uma explosão hormonal titânica, eu tinha
um bigode igual ao do cara da capa. Não, maior. E era o mais alto de minha classe também. Me
sentia igual ao Jack daquele filme com Robin Willians. Deu para entender, não
é? Bom, cada aluno ficou encarregado de apresentar uma das crônicas do livro. A
minha foi “Confuso”, de Luís Fernando Veríssimo. Comecei falando que o nome da
personagem era Consumidor e que ele tinha acordado confuso, vendo os
eletrodomésticos da casa funcionando de forma estranha. O enredo é bem assim
mesmo. Só que, no meio da apresentação, empolgado com meu desempenho, arrisquei
uma manobra ousada. Em bom tom, usando meu melhor vocabulário:
— O Consumidor fica confuso e o leitor também. Ora, no final da página
30, aparecem três letras, entre parêntesis, sem nenhuma ligação com a história.
A professora franziu a testa e pegou um exemplar para conferir a
origem da “confusão”. De fato, estavam lá as três letras entre parêntesis: (L.
F. V.). Em casa, depois de escutar sobre minha apresentação heroica, meu pai, que também tinha um bigode respeitável, perguntou:
— Isso aqui não é a assinatura do autor não?
Pela primeira vez na vida, eu achei melhor continuar confuso.
A ilustração, à la Botero, era a minha cara. E meu bigode. |
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