Quando
entrei no ginásio, a série Vaga-Lume começou a fazer parte da minha rotina de
leitura. Dividindo espaço com mangás/gibis, guias sobre Pokémon e revistas de
mulher nua contrabandeadas. Toda vez que a gente dava cabo de um daqueles
romances, a mando da professora de português, tinha que responder o “Suplemento
de Trabalho”, questionário com umas quatrocentas perguntas sobre a história,
cujo objetivo era “verificar” a leitura dos alunos. E dar uma nota. Se não
valesse nota, ninguém lia. Na quinta série, quando saquei que o esquema era “um
paradidático por unidade”, tratei de adiantar os suplementos. Fiz os dois
restantes numa tarde e tirei aquilo da cabeça. Respondi tudo lendo só a sinopse
da quarta capa e olhando as ilustrações do miolo. A terceira unidade começou e
o Vaga-Lume da vez foi Tem lagartixa no
computador, de Marcelo Duarte. Fiquei sossegado, já estava cumprida a
tarefa. Mas, contrariando a lógica, a pró mandou a turma apresentar o enredo oralmente
no dia da avaliação. O encarte de questões valeria apenas metade da nota. E
agora? Mandei brasa:
—
Tem lagartixa no computador conta a história de uns meninos que estavam
trabalhando com um computador e descobriram
que tinha uma lagartixa dentro...
Não
é bem assim a história, lógico. Mas o embromation
valeu alguns décimos no fim das contas. Nas férias daquele ano, por iniciativa
própria (reforçada por gentis advertências do chinelo de mainha) li os dois
romances cabulados. E mais alguns, da mesma coleção, que encontrei lá em casa. Ficava
numa felicidade danada ao terminar. E quando, enfim, comecei a ler os clássicos
(por obrigação, ou deleite), percebi a importância que aquelas leituras
preliminares tiveram.
Meu exemplar autografado de "O Fantasma de Tio William" (série Vaga-Lume, 2005),
de R. F. Lucchetti. E o respectivo "Suplemento de Trabalho".
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