“Filme”
para mim era sinônimo de “Sessão da Tarde” e “Cinema em Casa”. Ou seja,
cresci decorando as falas dos mais-que-reprisados “Super Xuxa contra o Baixo
Astral”, “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude” e “A Lagoa Azul”. Vídeo
cassete, só na casa de vovó. Era um bicho que menino não botava a mão. Só
adulto mexia. E como cinema não era artigo de extrema necessidade, o vídeo de
vovô servia mais para ver as gravações da Copa (e fazê-las, é claro) do que
para assistir longas-metragens. Mas, um dia, por ocasião do aniversário de
alguém, locaram algumas fitas. Dentre elas, a da comédia “Querida, estiquei o
bebê”. Todo mundo sentou na frente da tevê. Adultos no sofá, crianças no colo e no chão. Lá para o
final do filme, eu soltei essa:
—
Ele vai pisar em todo mundo, mamãe!
—
Vai não, filho, ele caminha devagar... — respondeu baixinho.
Outro
expectador, concentrado nas falas, fez o clássico sinal de silêncio para mim. Onde já se viu assistir sem comentar? Eu insisti:
—
E se ele pisar em alguém?
O
outro expectador, impaciente com a minha conversa, apertou o controle remoto com força e virou-se para a gente:
—
Espia o filme, depois vocês falam!
Mas não foi o botão da
pausa que ele pressionou. O filme começou a voltar bem rápido. Percebendo o erro, o outro expectador
apertou vários botões, agoniado. O vídeo vomitou a fita três vezes. Com os
olhos cheios de lágrima, aproveitei a deixa:
—
É igual no filme, adulto só faz besteira.
Momento exato no qual o pequeno Adam quase pisou em alguém. |
Um comentário:
Perfeito!!! No meu caso, quem tinha videocassete era minha tia. Colava com a prima... e escolher os filmes na locadora era " o evento"!!! Muito boa a história, Ricardo. A parte do mexer em todos os botões era típico do povo que não tinha o aparelho em casa... eu mesma já recorri várias vezes pra a prima acudir... kkkkkk
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