29 de fev. de 2016

REC Temporada 2/Ep. 4: Ninguém mascava chiclete até acabar o gosto

Todo mundo queria as figurinhas. Aquelas dos dinossauros que vinham na bala amarga. Aquelas que vinham no chiclete e que colava no caderno, raspando com a unha do polegar. Aquela outra que vinha no pacote de biscoito e não perdia o cheiro e o visgo do biscoito nem a pau. E aquela outra que vinha no chocolate e nossa mãe usava pra marcar livro. Ninguém queria o salgadinho. Ninguém ligava pro chiclete, ou pra a bala amarga, ou pro chocolate. Aliás, o chocolate todo mundo queria. Mas eu não dividia.
Enfim, quando os poquemons invadiram como vikings nossas vidas, saqueando nossas aulas de geografia, queimando nosso tempo livre e pilhando toda a grana que pingava em nossos bolsos, um fabricante de petiscos ensacados fez o imenso favor de lançar cartinhas colecionáveis (jogáveis e brigáveis) dos monstrinhos que apareciam no programa de Eliana de segunda a sexta.
— Pai, me dá cinquenta centavos?
— Cinquenta centavos? Tu quer isso tudo pra quê?
Isso tudo. Era uma dinheirama da porra mesmo. Dava pra comprar cinco geladinhos de Dona Tereza, ou uma acarajé, ou um misto no São João, ou um cachorro-quente na quermesse de São Roque, ou um refi em lata, ou um salgadinho que vinha com figurinha colecionável (jogável e brigável).
— Mas é cada uma! Salgadinho! Tu nem gosta de salgadinho!
Isopor com sal não é minha praia até hoje. Mas, e a figurinha?
— Eu como salgadinho sim!
Só comprei um. E não consegui engolir todas aquelas conchinhas com cheiro de vômito. Naquele período, enchi a pança mesmo foi com os apresuntados da cantina da escola. E dormi como o Snorlax da única cartinha que eu tive.

Card Pokémon Snorlax (Elma Chips, 2000). Minha cara, não?
Veja essa e outras curiosidades aqui.

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