Todo
mundo queria as figurinhas. Aquelas dos dinossauros que vinham na bala amarga.
Aquelas que vinham no chiclete e que colava no caderno, raspando com a unha do
polegar. Aquela outra que vinha no pacote de biscoito e não perdia o cheiro e o
visgo do biscoito nem a pau. E aquela outra que vinha no chocolate e nossa mãe
usava pra marcar livro. Ninguém queria o salgadinho. Ninguém ligava pro chiclete,
ou pra a bala amarga, ou pro chocolate. Aliás, o chocolate todo mundo queria.
Mas eu não dividia.
Enfim,
quando os poquemons invadiram como vikings nossas vidas, saqueando nossas aulas
de geografia, queimando nosso tempo livre e pilhando toda a grana que pingava
em nossos bolsos, um fabricante de petiscos ensacados fez o imenso favor de lançar cartinhas
colecionáveis (jogáveis e brigáveis) dos monstrinhos que apareciam no programa
de Eliana de segunda a sexta.
—
Pai, me dá cinquenta centavos?
—
Cinquenta centavos? Tu quer isso tudo pra quê?
Isso
tudo. Era uma dinheirama da porra mesmo. Dava pra comprar cinco geladinhos de
Dona Tereza, ou uma acarajé, ou um misto no São João, ou um cachorro-quente na
quermesse de São Roque, ou um refi em lata, ou um salgadinho que
vinha com figurinha colecionável (jogável e brigável).
—
Mas é cada uma! Salgadinho! Tu nem gosta de salgadinho!
Isopor
com sal não é minha praia até hoje. Mas, e a figurinha?
—
Eu como salgadinho sim!
Só
comprei um. E não consegui engolir todas aquelas conchinhas com
cheiro de vômito. Naquele período, enchi a pança mesmo foi com os apresuntados
da cantina da escola. E dormi como o Snorlax da única cartinha que eu tive.
![]() |
Card Pokémon Snorlax (Elma Chips, 2000). Minha cara, não? Veja essa e outras curiosidades aqui. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário