Meus pais eram
católicos. Bem católicos. Ainda são. Por isso, quando meu pai comprou um som
com tocador de CD, vários cantores de igreja começaram a entoar seus hinos lá
em casa. O bom dessa época é que a gente via menos televisão e escutava mais
música. A ruim é que eu não tinha grana pra comprar meus próprios CDs. Aí, o
jeito era rezar pra que meu pai escolhesse “O Grande Encontro”, ou “O Terço Toca
Raul”, ou qualquer um do Pink Floyd. Eu tinha umas fitinhas de punk rock e
reggae, que consegui com uns brothers da Rua do Cemitério, mas não podia ouvir
na presença dos mais velhos.
— Você pode
escutar o que quiser. A escolha é sua. Mas quando eu estiver em casa, quem
escolhe o CD sou eu. Combinado?
Tinha como descombinar?
Um dia, meio
injuriado com a vida, coisa que acontecia toda hora na pré-adolescência, olhei pra
capa de um daqueles CDs das Paulinas e soltei essa pérola escrota:
— Esse cara
é viado.
— Oxe,
viado? — Respondeu minha mãe franzindo a testa.
— Olha esse
arco-íris na capa do CD — respondi em tom de afronta mesmo, eu não tinha noção
do perigo.
— Dark Side
of the Moon tem um arco-íris na capa, não tem? — Disse meu pai, tropeçando no
inglês.
— Mas ali...
— E outra:
se ele for viado é da conta de quem? — Disse a mãe encerrando o assunto e
aumentando o volume.
O CD com o
arco-íris na capa (e um cara de jaqueta jeans e crucifixo no pescoço) ainda
está lá na estante da sala. Meus pais já não curtem um som como naquela época,
por falta de tempo. Ou por aquele desinteresse por coisas “menos importantes”
que a idade traz. Mas continuam ensinando os mais novos a não se meter na
escolha e no jeito dos outros. Combinado?
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Jonny, A força da oração, Paulinas Mais informações AQUI |
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